Era uma vez uma menina que, apesar de seu
vestido e sapatinhos pretos, não combinava com a cena em andamento. Ela via
rostos tristes e uma caixa grande com a tampa aberta em cima de uma mesa. As
pessoas se aproximavam da caixa, esboçavam sorrisos tristonhos, as vezes
tocavam o seu interior e iam se agrupando formando várias rodas tristonhas.
Silêncio e choro. Ela não estava triste.
- O que tem na
caixa?
Muitos olhos se
viraram para a garota e, esses mesmos olhos procuraram os olhos de uma mulher, que
assentiu com a cabeça, caminhou até a garota, abaixou-se ao seu lado, olhou-a
nos olhos.
- Filha... Ahn...
Tio Gregório está na caixa - disse a mulher incerta de suas palavras.
- E o que o tio
Gregório está fazendo na caixa!?- espantou-se a menina arregalando os olhos.
A mãe gaguejou
muitas coisas inaudíveis e sem sentido, olhando em volta em busca de
ajuda.
- Ele está
esperando um anjo vir buscar-lhe - quem falava agora era uma mulher muito
bonita e bem arrumada que estava atrás da mãe - Sabe, chega um momento na vida
em que vamos dormir para poder esperar um anjo.
- Se tio Greg está
esperando um anjo... então por que todo mundo está... - a menina olhou para todos
os rostos chorosos da sala.
- Ah querida, isso
é porque depois que ele for com o anjo, não vai voltar - a mulher fez uma pausa
e depois continuou. - Estamos todos aqui nos despedindo e desejando ao seu tio
uma boa viagem com o anjo. Gostaria de despedir-se?
A garota acenou
positivamente com a cabeça, mas a mãe hesitou, segurando a sua filha pelos
ombros, que já havia estendida sua mãozinha para a mulher, só que acabou
libertando-a.
Juntas, a menina e
a mulher, foram a grande caixa aberta onde a mulher pegou-a no colo, e assim, a
menina pode ver no interior seu tio.
- Faça boa viagem
tio Greg. Espero que seja um anjo bem legal que venha te buscar. Se puder mande
noticias.
A garota foi posta
no chão com um sorriso, sendo novamente encarada por todos, que prenderam
a respiração quando ela disse em alto e bom som:
- Tudo bem
pessoal... Tio Greg está bem e feliz! O anjo quem me disse!
Este foi o
primeiro encontro da garota com a morte. Um feliz encontro.
Tempos mais tardes
a menina-adolescente esteve mais uma vez entre roupas pretas e choro. Mas dessa
vez ela combinava com a cena. Estava triste. Era sua mãe.
Não havia nada que
pudesse lhe ajudar a entender aquilo, sua mãe se fora, só ficou o vazio. Tudo
que a menina ouvia era lamentos, choro, palavras vazias de ajuda
- Quem poderia
imaginar? Foi de câncer, me disseram. Uma pena...
A garota procurou
auxilio no silêncio lá fora.
- Perdeu a fé no
sonho dos anjos? - aquela era uma voz familiar, a menina virou para encara-la -
Ou só se esqueceu?
- Sonho dos anjos?
- a menina não aguentou mais. - Ela MORREU! - lágrimas até agora contidas
escorreram pelo seu rosto. - Ela... E... Ela foi embora! Estou sozinha... Ela
morreu...
- Vai ver
esqueceu. Não perca a fé - e com essas palavras a mulher foi embora.
E este foi o
segundo encontro da garota com a morte. Um triste encontro.
MR
Muto bem escrito, gosto desse tema: o fim da inocência. Quando acontece é sempre algo doloroso de se perceber.
ResponderExcluirGosto desse também... é tão cruel e confortável mentir pruma criança e depois doi muito mais.
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