segunda-feira, 23 de abril de 2012

Quisera


Quisera, cara de demônio
em seu ultimo pranto
enlouquecer o canto


Seu ultimo esforço
para retirar todo o ozônio
joga-nos seu manto


Quase que por encanto
cega-nos no poço
confunde-nos com homônimos


Ruborizada  e presa em seu antro
e mesmo assim, no entanto
não fazemos nada para sair de seu dorso


Este é seu melhor nome, em sua pior história, na minha verdade mais pura, demônio

MR

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Plano Conjunto


Quando o diafragma deixa a luz entrar
o obturador quase não nós dá tempo
bate branco, coloca o fundo verde
as linhas são revistas uma ultima vez
a dança está preste a começar
silêncio, todos a postos
AÇÃO!

Lá está a vida começando em qualquer ponto
todos sabem os seus lugares, o que dizer, como agir
não há problema imprevisto
a solução mágica, a resposta certa
está tudo escrito e planejado
e por estar bom demais ou simplesmente pra correções
CORTA!

A realidade do lado de fora segue
com seu próprio roteiro de improvisos
figurações e protagonismo de uma só vez
olhos captam os melhores ângulos
cérebros editam cenas como convém 
ouvidos prontos para receber a trilha sonora
um plano seqüência sem ensaios
VIDA!

MR

Eu, Hélio.


Saí do casting e sentei em algum banco daquela praça, pensei. E depois senti que não devia pensar. Mas logo em seguida pensei novamente, e entendi que valeria a pena não pensar. Veio-me a mente os poemas de Alberto Caieiro, e dizia ele que quem pensa não vê com os olhos. Não consigo ver com os olhos, entendi isso. E depois de tudo isso relembrei o que vim fazer aqui. Vim tentar fazer o que eu achava que veria com o coração, porém aqueles que me viam, o faziam com os olhos e não com o coração, ou talvez esse seja apenas meu ponto de vista. Eu aqui, com 25 anos, tentando ser o que serei daqui há 20, 30, quiçá 40 anos. Sinto-me irritado com o ar, com as pessoas que falam ao meu redor. Após alguns instantes me levanto e dirijo-me ao bar mais próximo. Chegando ao bar peço uma cachaça que faça aliviar o embrulho de meu estomago. Olho ao redor e procuro alguém com quem falar. Eu queria falar. Queria alguém a quem falar. Sinto-me sozinho. Sozinho é a palavra que me defini em todos esses anos. E novamente sinto. Sentir. Lembrei do abraço de minha mãe ao me despedir. Lembrei da infância. E eu não conseguia me desprender da infância. Porque tudo antes era tão feliz, tão fácil. Aquele desejo de bolo de chocolate, logo era preenchido.  Eu queria que continuasse sendo.  Queria sentir novamente o cheiro da terra molhada pela chuva, mas tudo que eu sentia era o gosto amargo da rejeição. Depois da terceira dose de pinga, resolvi conversar com alguém. O atendente. O atendente não fazia cara de muitos amigos, mas certamente já teria pensado o mesmo que eu, afinal aparentava ter quase a mesma idade. Dirigi-me a ele e perguntei quais eram os planos, ele me respondeu que era servir aquelas outras mesas. Mas quais planos seriam esses? Porque tão breves? Nada a longo prazo? Novamente pus-me a pensar sobre Alberto Caiero, e certamente ele não faria planos para o amanhã. Pois eu faço. Fico a imaginar como seria o hoje, se eu não tivesse caminhado até esse bar e pedido essa cachaça. Imagino também como seria se não tivesse saído de lá. Talvez teria uma vida longa e feliz no campo. Ou talvez ainda uma vida cheia de tédio e insatisfações. Mas, espere, tédio é algo que tenho alimentado ao passar de todos esses anos aqui na cidade. Será possível sentir tédio em lugar cheio de atrativos? Sim; respondo com certeza.  Estou aqui e sozinho. Tanta gente ao redor e ninguém. Já estou agora bêbado, e cansado o bastante para poder parar de pensar. Mas como poderia parar de pensar? Há tantas coisas que me vêem a cabeça. E elas não param de vir. Coisas que vieram e que virão. Será que sou um ator? Como saberei se sou um ator se nem mesmo sei quem sou eu. Eu mesmo, eu Hélio, aquele que nasceu em 1986 naquela cidade do interior, e que depois veio até São Paulo tentar ser... alguém. Alguém? Como se pode ser alguém quando não se pode nem se quer saber quem é. Quem é alguém? Nem se quer sei o que essa palavra significa. Consultando meu dicionário de bolso – sim, tenho um dicionário de bolso – vejo que significa “pessoa não identificada.” Pessoa não identificada? Pois agora acho que mudei de idéia. Talvez eu seja uma pessoa não identificada.


P.R

Obrigada Por Ler

E as minhas palavras ganham forma
graças à você 
Ganham ritmo, sentido e cor
graças à você


Elas vão se propagar  mundo afora
graças à você
Vão ser decoradas, imortalizadas e aclamadas
graças à você


Então elas mudam de sabor
graças à você 
Você as destrói, constrói, amassa e joga fora
obrigada por ler


MR 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Vertências

Sempre muito difícil  escrever daqueles tão distantes
pois a admiração não significa conhecimento
e não te conhecer não me dá a propriedade necessária
Me sinto uma farsa nessas palavras
mas a verdade é que você está aqui
um dia talvez eu esteja aí
e nesse meio tempo o que me resta 
é escrever sobre o que penso que sei.

Sei sobre seu discurso de repertório
Sei sobre seu sorriso descontraído
Sei sobre seus olhos brilhantes quando expectativas são superadas
Sei também das marcas em sua pele
dos desenhos que cultuam  as artes
Sei do seu estilo e ídolos

Mas não sei da sua vida

Não sei seus sonhos
Não sei a quem pertence aquele beijo
Não sei dos seus caminhos
Não sei também do seu passado
aqueles que conhece desde da infância
Não sei de seus medos e inseguranças

E o que penso que sei
não é nada perto do que é
e no final o melhor
é não escrever sobre nada
e te dar a chance de se abrir
o dia em que a admiração é mutua 
o dia em que nasce uma nova história
a nossa... amizade.


MR

quinta-feira, 12 de abril de 2012

No Metrô



    Ela estava distraída com seu fone que inundava seus ouvidos com musicas, a levando para longe de sua rotina. Um olhar para o lado e a rotina tomou formar de interesse.
    Ele já a havia notado, mas os fones dela o repeliam de qualquer contato, então tudo que podia fazer era continuar a olha-la. Um movimento e tudo, agora, era possível.
    Ela já o tinha visto antes, ontem mesmo, pensou nas possibilidades, eram tão remotas, quis ir até ele. O trem chegou e ela teve que embarcar.
    Ele estava sentado no vagão, pensando nela, naquele breve encontro de olhares, queria ter tido coragem e ido atrás dela, talvez não fosse tarde, ela estava apenas uns vagões à frente. O trem parou e ele teve que desembarcar.
    Ela andava em direção a escada rolante, quando o viu no pé daquela mesma escada, apressou o passo. Ele já havia chegado ao topo.
    Ele não acreditava que ela estava apenas a uma escada de distancia, ele devia reduzir a velocidade, dar a ela uma chance. A multidão tinha pressa e o carregou.
    Ela correu o máximo que pôde, apenas para encontra-lo, não podia desistir agora. Lá estava ele, somente uns poucos degraus acima da escada paralela a dela.
    Ele já estava próximo ao ultimo lance de escadas, ela provavelmente estava vindo nessa direção, podia espera-la na plataforma. Mas lá estava o trem novamente e ele teve que embarcar.
   Ela já havia perdido as esperanças, o perdera em meio a multidão, desceu as escadas, quem sabe ele estaria na plataforma. O trem foi o que ela encontrou e teve que embarcar.
   Ele desembarcou, havia a perdido para sempre, mas se atreveu a olhar pra frente, e lá estava ela e seu fone, ele andou o mais depressa que pôde, ficou a poucos centímetros dela e a alcançou na saída da estação, descendo os últimos degraus ao seu lado.
   Ela seguiu em frente, ele virou a esquerda, ela olhou para trás, ele também. Nunca mais se viram.


MR

quarta-feira, 11 de abril de 2012

vida


A vida é um vai e vem de coisa alguma,

coisa que começa em alguma e termina em nenhuma.

Gente que vai e que vem.

Que encontra e desencontra.

Toda essa gente.

Gente.

Gente nas ruas, nos cafés, nos bares, restaurantes.

As noites, os dias.

Os amores. Ah! Os amores...

E quando eu não estiver mais aqui, eles ainda falarão disso.






P.R

Fé, Confiança e Pó Mágico



E do alto do prédio uma garota observava o mundo abaixo.

Contemplando a visão à direita, só viu miséria e desesperança. Ela não conseguia compreender, não havia um só traço de felicidade, como alguém poderia falar de amor e fé? Ela estava desacreditada de tudo, mas, mesmo assim, se atreveu a olhar para o mundo a sua esquerda. Tudo mudou.
Finalmente ela via e entendia o amor, a fé e a esperança, sentiu-se capaz de tudo. Abriu os braços para o céu, com um sorriso estampado no rosto, e se jogou para a felicidade.
Hoje essa garota é uma das mais famosas suicidas.


MR




segunda-feira, 9 de abril de 2012

Só Se For Verdade

 Eu vivia minha vida, sem mais, sem menos, só vivendo. Então um dia me disseram "você é tão triste, sorria pelo menos uma vez, e você vai ver tudo melhorar." Por dois dias eu sorri e fui feliz. Me disseram "viu? não foi tão difícil, não foi bem melhor assim?"
 Continuei a viver minha vida, sem mais, sem menos, só vivendo. Então um dia me disseram "agora que você já sabe como ser feliz é bom, por que não escreve sobre isso?" ao que eu respondi "desculpe, mas só escrevo verdades".


MR



Sete de Abril


A tranquilidade da rotina
lhes foi tirado
As boas histórias
nesse dia ficaram de lado
Desespero, angustia, dúvida...


Um decidindo o de todos
Medo, pavor, susto...
Ter na frente o carrasco
o seu, o dele e daquele
A vez que deveria se adiar


Barulho, silêncio, sangue...
A esperança da mão amiga
a desesperança do olhar amigo
brutalmente ceifado
O toque gelado


O terror chama atenção
desorientados, todos eles
Outro alguém para decidir
Raiva, compaixão, tristeza...
Encontro de juizes


No fim nada resta
a guerra já fez suas vitimas
A correria, a vida, a morte...
Não sei quantos foram
Mas fazer acontecer
só deixou
dor


MR

domingo, 8 de abril de 2012

Borboletas

Borboletas voam sem se importar
Minhas borboletas em cima do altar
tão paradas, douradas, faz sonhar


Borboletas flutuam em cima da flor
Minhas borboletas sem cor
tão simplórias, não cantam vitórias sobre a dor


Borboletas viajam sem destino
Minhas borboletas cheias de pinos
tão presas, sem prazos e peso dos hinos


Borboletas entoam a mesma canção
Minhas borboletas de ilusão
tão sozinhas, quietinhas deixaram meu coração


Borboletas rodam a sua volta
Minhas borboletas, minha escolta
tão gelada e morta


Borboletas do meu jardim
minha única vida em mim
tão quente, ardente sopro partiu
com meu riso e você também sorriu


MR

sábado, 7 de abril de 2012

Confissões

E se eu confessasse que eu não consigo abrir a lata de creme de leite
você ainda gostaria que eu cozinhasse pra você?
E se eu confessasse que eu não sei cantar
você ainda gostaria que eu cantasse pra você? 
E se eu confessasse que eu não entendo de cinema
você ainda gostaria que eu acompanhasse você?  
E se eu confessasse que você é uma farsa
eu ainda lhe amaria?


MR



terça-feira, 3 de abril de 2012

Nossas Horas



Aquele seu sorriso nunca vai embora
entre tantos perdidos no mar
meu sonho não inclui suas horas
e meu desespero paira sobre o ar
sobre nós, e nada mais
seu sonho não inclui minha horas
essa é a verdade que eu não quis acreditar
da sua voz dizendo jamais


Se ainda persisto em seu rosto
se ainda insisto em seus braços
não há nada além da loucura de meu posto
pondo em prova todos os seus traços
na minha mente completo suas vontades
sigo rezando a mesma cantiga de desgosto
para desestabilizar todos os laços
queimando qualquer ponto de sobriedade


E no ritmo frio das palavras de outro alguém
me esquenta a ilusão
por esse momento esquecerei seu desdem
Vou dançar em seus olhos no brilho da escuridão
Aquele seu sorriso
o movimento que seu perfume tem
a minha volta o calor do seu coração
todos os ensaios dão lugar ao improviso


Minhas horas seguem nessa inconsistência
seu real afeto, suas atitudes feéricas
Suas horas na sua consciência
para mim puramente quiméricas
Nossas horas inexistentes
exceto naquele momento de inocência
Somos parte genérica
de caminhos incongruentes




MR

domingo, 1 de abril de 2012

1º de Abril


Apesar da fama
o que aqui se segue
é a verdade em versos
com todas suas dores,
amores, temores
Contado aquilo
que só eu e o mundo
poderemos saber
sobre seus horrores,
sabores e cores.




MR