quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Menino?

Eu conheci um menino
que tinha nome de anjo
e alma de capeta
tinha aparência de um deus
e jeito de Julieta

MR

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Conversa Fiada.


Não sei ao certo como fui parar lá ou as palavras exatas que foram ditas, mas numa madrugada amena de verão uma movimentação fora do normal tomava conta da frente de uma casa. Policia, curiosos, um toque de mídia, só faltava armar a lona, e lá estava o circo. Um verdadeiro massacre, toda uma família estendida no chão frio da cozinha, todos, menos uma menina. 
Entre uma conversa e outra fui entendendo o que aconteceu, ou pelo menos o que as pessoas acharam  que aconteceu.  A casa foi invadida, algo sobre um roubo de jóias ou vingança. A família foi confinada na cozinha, no caso das jóias, mas alguém tentou chamar a policia ou revidar e eles acabaram lá, no chão. Já na versão da vingança, que eu particularmente acho bem mais divertida, seja lá quem queria vingança, foi convidado a entrar pela família que jantava, estavam então todos na cozinha ajudando com a louça, quando de repente o convidado sacou uma arma, rendeu todos, e matou, um a um.
Como disse no começo houve uma sobrevivente. A filha mais nova, de apenas cinco ou seis anos, estava dormindo no segundo andar (em ambas as histórias) e acordou ao som dos gritos de sua família. Saiu da cama, foi ao quarto dos pais no mesmo corredor, pegou a arma que seu pai tinha numa gaveta e voltou para seu quarto e se escondeu debaixo de sua cama. De lá usou seu celular para ligar, o que ela achou que fosse a policia, mas na verdade foi para um amigo da família, o primeiro a encontrar os corpos.
Ouvi o relato do amigo de camarote, enquanto ele respondia as perguntas de uma repórter.
- O Sr. foi o primeiro a chegar ao local?
- Sim, eu recebi uma ligação da pequena, nem sabia que ela tinha meu número, ela me ligou e ficou repetindo "louco, sangue e gritos, me ajuda!". Ela achava que estava falando com a policia, me passou até o endereço da casa, pobrezinha.
- E o que o Sr. encontrou quando chegou a casa?
- Bem, a porta estava aberta... entrei... estava tudo quieto... então subi e fui ao quarto dela. Que susto levei! Ela estava de pé de frente para porta segurando uma arma e a apontando pra mim! Depois que ela viu que era eu, abaixou a arma e me deu um abraço, chorou muito. Deixei ela lá em cima e fui procurar o resto do pessoal enquanto chamava a policia... foi ai que eu vi...
Pausa dramática.
- ...eles... todos eles... foi horrível.
A repórter tentou fazê-lo falar mais, mas veio um policial e o levou dali. Foi ai que eu vi a menina, enrolada num cobertor vermelho, chorando ou rindo muito, era difícil dizer, pobre garota...
No dia seguinte os principais jornais traziam o acontecido nas primeiras páginas e as manchetes diziam "Criança causa banho de sangue por causa da sobremesa".


MR

domingo, 22 de janeiro de 2012

A Menina e a Morte


Era uma vez uma menina que, apesar de seu vestido e sapatinhos pretos, não combinava com a cena em andamento. Ela via rostos tristes e uma caixa grande com a tampa aberta em cima de uma mesa. As pessoas se aproximavam da caixa, esboçavam sorrisos tristonhos, as vezes tocavam o seu interior e iam se agrupando formando várias rodas tristonhas. Silêncio e choro. Ela não estava triste.
- O que tem na caixa?
Muitos olhos se viraram para a garota e, esses mesmos olhos procuraram os olhos de uma mulher, que assentiu com a cabeça, caminhou até a garota, abaixou-se ao seu lado, olhou-a nos olhos.
- Filha... Ahn... Tio Gregório está na caixa - disse a mulher incerta de suas palavras.
- E o que o tio Gregório está fazendo na caixa!?- espantou-se a menina arregalando os olhos.
A mãe gaguejou muitas coisas inaudíveis e sem sentido, olhando em volta em busca de ajuda.
- Ele está esperando um anjo vir buscar-lhe - quem falava agora era uma mulher muito bonita e bem arrumada que estava atrás da mãe - Sabe, chega um momento na vida em que vamos dormir para poder esperar um anjo.
- Se tio Greg está esperando um anjo... então por que todo mundo está... - a menina olhou para todos os rostos chorosos da sala.
- Ah querida, isso é porque depois que ele for com o anjo, não vai voltar - a mulher fez uma pausa e depois continuou. - Estamos todos aqui nos despedindo e desejando ao seu tio uma boa viagem com o anjo. Gostaria de despedir-se?
A garota acenou positivamente com a cabeça, mas a mãe hesitou, segurando a sua filha pelos ombros, que já havia estendida sua mãozinha para a mulher, só que acabou libertando-a.
Juntas, a menina e a mulher, foram a grande caixa aberta onde a mulher pegou-a no colo, e assim, a menina pode ver no interior seu tio.
- Faça boa viagem tio Greg. Espero que seja um anjo bem legal que venha te buscar. Se puder mande noticias.
A garota foi posta no chão com um sorriso, sendo novamente encarada  por todos, que prenderam a respiração quando ela disse em alto e bom som:
- Tudo bem pessoal... Tio Greg está bem e feliz! O anjo quem me disse!
Este foi o primeiro encontro da garota com a morte. Um feliz encontro.


Tempos mais tardes a menina-adolescente esteve mais uma vez entre roupas pretas e choro. Mas dessa vez ela combinava com a cena. Estava triste. Era sua mãe.
Não havia nada que pudesse lhe ajudar a entender aquilo, sua mãe se fora, só ficou o vazio. Tudo que a menina ouvia era lamentos, choro, palavras vazias de ajuda
- Quem poderia imaginar? Foi de câncer, me disseram. Uma pena...
A garota procurou auxilio no silêncio lá fora.
- Perdeu a fé no sonho dos anjos? - aquela era uma voz familiar, a menina virou para encara-la - Ou só se esqueceu?
- Sonho dos anjos? - a menina não aguentou mais. - Ela MORREU! - lágrimas até agora contidas escorreram pelo seu rosto. - Ela... E... Ela foi embora! Estou sozinha... Ela morreu...
- Vai ver esqueceu. Não perca a fé - e com essas palavras a mulher foi embora.
E este foi o segundo encontro da garota com a morte. Um triste encontro.



MR

sábado, 21 de janeiro de 2012

O Sol e o Trompete.

Que majestoso é o Sol quando entra no palco
Que melodiosa é sua musica entoada lá do alto
A nós mortais só resta ouvir

Lá dos céus o Sol compõe suas letras esplendorosas
Regendo nossas vidas com suas palavras estrondosas
A nós mortais só resta seguir

O Sol despeja suas vidas em suas canções
E sua voz arrastada quer chegar aos corações
A nós mortais só resta sentir

O som fantástico que o Sol produz em sua agonia
Não é jamais menos intenso do que quando em alegria
A nós mortais só resta repetir

As nuvens e a primeira estrela sopram ao Sol trechos
Mas é o Sol a alma jubilosa que faz os desfechos
A nós mortais só resta sorrir

Toca mais uma vez o Sol antes da despedida
Nos completa com suas frases muitas incompreendidas
A nós mortais só resta ir





MR

Fim.

Não quero mais ouvir 
sobre o aquecimento global,
violência ou fome mundial.
Não quero saber da humanidade e seus problemas
nem da sociedade e seus dilemas


Não ouço mais canções de amor
não acredito mais em disco voador
não entendo o canhão perdendo pra flor


Fé, amor e esperança
são apenas palavras sem qualquer relevância
A maldade perdeu sua importância
de nada mais vale viver
todos desistiram, até mesmo você


Profecias de fim já não assustam mais
não me importo com a procura da paz
Todos nos deixam em algum momento
e nós aos outros com as mudanças dos ventos


Nesse mundo sem nada
a mentira foi enganada
a verdade foi trocada
Nada mais faz sentido
não aceito mais as fadas


Não entendo mais
não acredito mais
não ouço mais
não quero voltar atrás 
não mais...


MR


sobre os ventos


E agora eu durmo no sofá, porque não consigo dormir na cama sem você ao meu lado.
E todos aqueles dias se foram com o vento
Fico imaginando quais ventos te trariam de volta.


P.R

Círculo Com Fim

Eu amei um
nobre, generoso,
magnífico, ganancioso,
perfeito, formoso,
delicado, gracioso,
elegante e mimoso
rapaz
Que amou uma
vaca, terrível,
vil, desprezível,
indelicada, horrível,
desgraçada, temível,
retardada e inatingível
amiga
Que não ama ninguém.




MR

a hora do chá

naquela manhã estava sentada na poltrona ouvindo meu programa de rádio favorito. foi quando, de repente, o telefone tocou. senti um frio na espinha. corri. atendi. a voz do outro lado parecia não menos aflita que eu. era Jorge, um amigo de longa data. pediu que eu fosse, o quanto antes, à sua casa e desligou sem se despedir. fiquei petrificada com o telefone na mão. quando me recuperei do susto, desliguei o rádio e sai de casa. no caminho até sua casa fiquei imaginando o que poderia ser tão importante para Jorge me ligar uma hora dessas, afinal, com a vida que leva, jamais havia se levantado antes do meio dia  em qualquer dia. será que teria ele matado sua empregada Margarida? hmm... acho que não. Margarida sempre o fazia ficar irritado, mas não acho que chegaria a tanto. ou será que teria perdido toda sua fortuna nos jogos de ontem? apertei o passo e caminhei o mais depressa possível. quando finalmente cheguei em sua porta, tomei folego e toquei a campainha. Margarida abriu a porta e disse-me que Jorge aguardava na sala de estar. ele estava sentado em uma das poltronas. sentei-me na outra. pediu então que Margarida nos servisse o chá. perguntei imediatamente o que havia acontecido. Margarida chegou com o chá. ele parou, olhou-me nos olhos e disse: "estou morrendo". eu sorri aliviada e disse-lhe que isso era uma coisa muito engraçada de se dizer, afinal, todos nós estávamos.  ele sorriu de volta e continuamos a tomar o chá. 


P.R

Ela me disse...




Ela me disse que levanta todas as manhãs com vontade de se deitar de novo
Ela me disse que na verdade nunca vê o sol nascer
Ela me disse que é bem melhor quando ele se põe
Ela me disse que não consegue sair de lá
Disse que não consegue ver
Ela me disse que quer ver pessoas
Ma s disse também que não as suporta
Ela me disse que então é bem melhor sair de olhos fechados
E ela saiu
Pedi a ela que me contasse o que viu de olhos fechados
Ela me disse que viu bem mais do que eu de olhos abertos
Ela me disse que finalmente abriu a porta
O medo de abrir a invadiu, porém ela não desistiu
Pôs os pés pra fora, e não sabia se era dia ou noite
Ela me disse que podia sentir o vento como nunca sentira
E que pelo jeito que o vento soprava, parecia ser de noite
Ela me disse que caminhou pelas ruas
Sentiu o asfalto nos seus pés, mesmo estando calçada
Ela me disse que podia sentir todos os passos dos que caminhavam ou caminharam por lá
Eu perguntei a ela como isso seria possível
Ela me disse que o asfalto tinha marcas, assim como as pessoas que passaram por lá
Marcas profundas, outras mais leves
E ela me disse que era assim dentro de todo mundo
Ela continuou a caminhar
E me disse que podia sentir todas as pessoas ao seu redor
Mas que porém ainda se sentia sozinha, andando livremente como se nada nem ninguém pudesse interferir
Perguntei a ela como poderia se sentir sozinha se a cidade nunca dorme
Ela me disse que a cidade dormia de olhos abertos
Mas ela me disse que apesar de se sentir sozinha, de olhos fechados ela podia sentir todo o resto que ninguém podia
Foi quando então sentiu um pingo de água cair bem de cima e tocar toda a sua face
E os pingos se multiplicaram e tocaram todo o seu corpo
E aí ela me disse que foi a primeira vez que sentira algo tão perto de si mesma
Ela me disse que sentiu medo e frio, mas que mesmo assim continuou a caminhar
E que a partir daí começou a ouvir os barulhos da cidade
E sentiu mais medo
Ela me disse que se sentiu atordoada e quis voltar para o começo
Os sons não faziam o menor sentido
Ela começou a se perguntar como eles podiam fazer aquilo
Ela me disse que o silêncio deveria ser mais apreciado
Ela me disse que de olhos fechados podia ver cada um dentro de suas casas, com as luzes acesas, as TVs ligadas e chorando em silêncio mesmo com todo o barulho
Ela parou e se sentou em um lugar qualquer onde pôde tocar uma arvore
E sentiu como se a árvore fosse a coisa mais viva que pudera tocar naquela cidade toda
Ela me disse que se levantou e que finalmente todas as luzes se apagaram
E que tudo voltou a se silenciar novamente
Ela me disse que agora sim podia sentir as pessoas respirando
E que agora não era mais o vento, mas sim o ar vindo de todas as pessoas que se calaram e respiravam em silêncio, que a tocavam
Ela me disse então que resolveu voltar
Continuou a caminhar de olhos fechados até sua porta
Ela abriu a porta e os olhos
Ela me disse que não conseguia mais ver nada.



P.R

S.H.

Em algum lugar do tempo que já passou, existiu uma garota. Ela nada tinha de especial, não era nem mais alta, nem mais baixa, mais bonita ou feia, apenas mais uma na imensidão. O que a tornava no minimo interessante era o que acontecia com ela em toda e qualquer sexta-feira 13.

Muitos mitos e lendas cercam essa data que ocorre em determinado período, sem falta, e para essa menina todos os mitos e lendas, sobre essa data relacionadas ao azar, eram verdades.

Toda sexta precedida por uma quinta 12 algum desastre se abatia sobre ela, febre, tempestade, membros quebrados, dores, tombos, atrasos. Não importava se ela acordasse e não se mexesse ou se ela saia por ai, algo sempre acontecia.

Numa sexta 13 de janeiro essa garota acordou sentindo um gosto ácido na boca, tentou um chá, mas tudo que conseguiu foi uma camomila ácida e azeda saindo de sua garganta. Depois de limpar toda a sujeira que a sexta havia provocado ela pensou que não podia ficar pior.
E lá foi ela ao cinema, enfrentou um transito caótico, chuva, um arranhão no braço, algumas cotoveladas e, quando enfim chegou, encontrou uma fila enorme na bilheteria, mas pra ela ainda estava valendo a pena, ela queria muito assistir esse filme, que tinha sua estréia marcada pra aquele dia 13. Teve um pouco de sorte e conseguiu comprar o ultimo ingresso para as ultimas fileiras. Estava radiante, finalmente algo de bom na sexta-feira.

No meio da sessão, alguém, algumas fileiras na frente da jovem, se levantou, ela nem ligou, estava focada no filme, a pessoa se virou para o fundo do cinema, levantou uma das mãos, mantendo-a erguida a frente do corpo na horizontal, um estampido forte ecoou na sala. A menina nunca mais teve outra sexta-feira 13.


MR