quinta-feira, 13 de novembro de 2014

um mal crônico.



      Cecília sentiu-se mal ao adentrar à sala, Tentou escorar-se no batente da porta. Logo todas as pessoas presentes se levantaram para amparar a moça. A fizeram sentar em uma cadeira e lhe deram água. Cecília, ainda zonza, tentou acalmar a todos dizendo que estava bem. A reunião prosseguiu e se estendeu até o fim daquela tarde, quando algumas poucas pessoas foram até Cecília para saber se estava bem.
       Na manhã seguinte, Cecília levantou-se com o sol. Vestiu-se vagarosamente e depois tomou seu café apreciando cada gole. Pegou o taxi na frente de casa.  O dia estava quente, o sol batia diretamente em Cecília. Suava e tentava se abanar com as mãos. Finalmente desceu do taxi e tocou a campanhia da casa de sua avó Doralice. As duas aproveitaram a tarde para tomar chá e fazer fofocas. Até mesmo Inácio, seu avô, que há muito não desgrudava do rádio, participou da tão agradável conversa. Cecília despede-se de seus avós e parte ao encontro de uma amiga na doceria no centro da cidade.
      Cecília e sua prima Gabriela discutiram assuntos de família, principalmente sobre o marido de Gabriela, que, segundo ela, estaria tendo casos extraconjungais há meses. Mas de qualquer maneira, Gabriela não ousava deixar o marido, por quem era, ainda, perdidamente apaixonada, mesmo após anos de traição e descaso. Cecília, Apesar de não concordar com a prima, apenas sorriu e concordou, Cecília decidiu ir andando, já que morava há poucos metros da doceria. No meio do caminho sentiu uma vertigem, mas continuou andando, o mais de pressa que podia, para casa. Chegando em casa sentou-se no sofá e sentiu-se aliviada.
       Na manhã seguinte, Cecília levantou-se com o sol. Vestiu-se vagarosamente e depois tomou o seu café apreciando cada gole. Sentou-se em frente e a TV e assistiu se distraiu-se. O sol batia diretamente em Cecília. Suava e tentava se abanar. Foi até a cozinha bebeu um copo d'água gelada. Sentiu-se bem.
       Durante a noite mal conseguia dormir com o som de carros e pessoas passando pela rua.
       Na manhã seguinte, Cecília não se levantou com o sol. Não vestiu-se. Sentia-se mal e já era crônico.
     

Paula Raia.

domingo, 5 de outubro de 2014

Alguém Na Escuta?

Oi? Alô? Alô? Estão me ouvindo?
Qualquer um... Alô?
Acho que o pessoal lá trás... Estão ouvindo?
Da pra aumentar um pouquinho?
Alô? Teste. Alô. Acho que agora foi. 
Vocês ai da esquerda, tá chegando ai?
Pessoal aqui da direita, tudo certo?
Por favor, só escutem. Acho que não estão ouvido. 
Alô?
Vocês escutam ai da frente?
Escutem. 
Aumenta o volume mais um tanto, por favor. 
Não tá funcionando? Será que alguém pode resolver aqui?
Aqui, acho que tá quebrado. Alguém?
Oi? Alô?...

MR

terça-feira, 23 de setembro de 2014

a cidade que me pariu.

sempre ouço falar de como São Paulo acolheu ou expulsou um ou outro forasteiro.

mas e de sua cria, o que São Paulo fez?
aqui nasci e vivi por grande parte da minha vida, a parte mais importante.

só meus dias maiores podem ter sido vividos aqui,

porém, cada vez mais, me sinto expulsa da cidade que me pariu.
ando por essas ruas, que um dia pisei firme
e decepciono a mim mesma
acelerando meu coração a cada passo
e do do metrô que um dia me fez orgulhosa
hoje sinto medo

medo de cada passo na avenida paulista
se uma buzina destoa do que costumava ouvir

medo do medo de ter medo
e de andar por essa cidade que um dia me pariu.

Paula Raia,

sábado, 2 de agosto de 2014

o tempo

já faz quase um ano. e eu gostava tanto de você (gosto pra sempre). um dia desses sonhei que você estava com medo de morrer. esse medo é  meu, é nosso, é de todos. e esse medo também é o que eu sinto de mim mesma, por isso escrevo sempre em letras minúsculas; pra não sobressair nem uma nem outra vogal ou consoante, afinal é de todos. eu escutei de novo aquela música e entendi o que ela queria me dizer. não era nada daquilo que me dizia há um ano atrás, mas ainda assim era a mesma coisa. é só que eu não queria entender antes. ver que o tempo é necessário. e o tempo e o vento, sim o vento também, os dois, te levam onde nunca imaginarias estar. e contando com a inexistência do tempo e a inconstância do vento, podemos ir pra onde quer que seja. acreditando que isso seja, supostamente, a verdade do universo, podemos sempre estar e fluir. você fluindo pelo cosmo, e eu, apenas estando aqui e agora. um bom final sem letras maiúsculas, travessão, aspas, espaços para parágrafos, nem muito menos um ponto final



Paula Raia

terça-feira, 29 de julho de 2014

nunca

é que de mim mesma
nunca fui amiga
gostaria que a rua
me levasse
com ela
(eu) esperando que ela
nunca me leve a mim.

Paula Raia

domingo, 8 de junho de 2014

O Dois Lados de Primavera

Em Primavera moram duas garotas. Uma delas, de cabelos curtos cor de palha, de palha incandescente, vive na parte ensolarada, com lindos jardins de flores silvestres ou campestres ou mesmo sem classificação, quando ela andava pelos jardins seus cabelos eram puro fogo em Primavera. A outra, de cabelos longos e ou muito pretos ou muito azuis, vive na parte mais agitada, cheia de jardins de prédios altos e baixos iluminados por luzes magnificas durante a noite, nas quais seus cabelos brilhavam como um céu de estrelas.

Nossa Fogo olhava o outro lado de Primavera e suas luzes, não havia cores tão lindas e vibrantes em todo o jardim. Nossa Céu olhava o outro lado de Primavera e sua luz, não havia cores tão lindas e vibrantes em todo o jardim. Fogo desejou as cores da noite. Céu desejou as cores do dia. E em segredo foram busca-las.

Fogo chegou ao outro lado pela manhã, quase no mesmo momento em que Céu partiu para o outro lado. O dia estava fraco, tudo era muito cinza, não havia cor, até mesmo seu cabelo não entrou em combustão. 

Quando Céu chegou ao outro lado, ao mesmo tempo que Fogo partiu para seu outro lado, já era noite. Uma noite sem lua em que poucas estrelas se aventuraram e tudo que ela encontrou foram escuros tons de cinza, seu cabelo tão apagado quanto o resto.

Fogo chegou pela manhã ao seu lado e agradeceu o sol forte. Céu chegou pelo anoitecer ao seu lado e agradeceu as luzes brilhantes. 

Ainda em Primavera elas moram. Fogo deseja as cores da noite. Céu deseja as cores do dia. Só de longe.

MR

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Minha Bonequinha

Minha bonequinha de porcelana
deitada na caixinha enfeitada que mandei fazer
Minha bonequinha de porcelana não chora nem reclama
deitada na caixinha enfeitada que mandei fazer

Minha bonequinha de porcelana
deitada na caixinha enfeitada que mandei fazer
Minha bonequinha de porcelana ficou no buraco
deitada na caixinha enfeitada que mandei fazer
Ninguém mais vê.


MR

quinta-feira, 20 de março de 2014

A porta, a menina, o mar e o céu.

Era uma vez uma porta, uma menina, o mar e o céu.

A porta ficava numa ruazinha bem estreita, não havia muros, paredes ou coisas assim, só a porta logo na eira da beira da calçada onde ficavam as portas, portões e todas as entradas das casas, mas naquele espaço não havia casa, casinha, mansão ou casebre, só a porta que estava fechada.

A menina morava na rua paralela da porta. Sempre que voltava da escola a menina passava por ali, atravessava a rua e olhava a porta, lá no fim, parava, pensava, entrava na rua da porta, parava na frente dela, dava uma volta entorno, suspirava e ia pra casa.

O mar, bem longe da porta e da menina, se preocupava apenas em fazer o que o mar faz, sem perturbar ou ser perturbado.

O céu está sempre no seu lugar, sempre a testemunha ocular de qualquer crime. O céu viu a porta, a menina, o mar ao longe e a menina mais uma vez circulando a porta.

A porta estava lá quando a menina chegou. E por lá ficou enquanto era observada.

A menina olhava a porta, todos os detalhes, a examinava por completo. A menina postou-se atrás da porta, a abriu, tudo que viu foi a rua, fechou a porta. Agora ela estava de frente e abriu a porta, puxando-a para si.

O mar invadiu a rua, engolindo primeiro a menina.

O céu assistiu a porta, o mar e a menina.

MR

sexta-feira, 14 de março de 2014

Crônicas de Xico Xá

Eu não queria sair aquela noite, estava cansada, andara o dia todo, mas minha irmã me convenceu que tudo que eu precisava era sair. Não para qualquer lugar, para um encontro literário onde falaria um que, para minha irmã, é muito querido.

Lá fui eu, na pressa e na fome, pro lugar onde nosso encontro foi marcado, minha irmã também estava na pressa, pois já estava atrasada, e na fome, ela estava muito atrasada. Finalmente ela chega, corremos, pro lado errado, depois acertamos o passo.

E chegou a hora, todos tomaram seu lugar na platéia e o dito cujo reivindicou seu lugar no palco. Mesmo sendo um bom evento, eventualmente, o cansaço levou a melhor e por muitas eu quase dormi, mas para o final eu me mantive mais acordada.

Agora conto o que realmente vim contar! Haveria um sorteio do mais novo livro do ilustre convidado! Rufem os tambores, a mão pega o papel e após a rápida espiada dos olhos a voz anuncia "Marina Laura!". Essa não sou eu. Do fundo vem a voz hesitante "Eu... já... tenho... será que... seria possível...".  Ela vai mandar fazer outro sorteio!. "... eu pegar autógrafo nos dois?".

Vaca.

MR