Sentia que havia algo preso, alguma coisa que me perturbava, pois tenho consciência que havia dito ou feito tudo que precisava, então o que poderia restar? O que resta? E era isso, isso que ainda estava preso, que tinha lugar em minha mente, o que resta?
Essa pergunta estava me consumindo, já não restava nada. Alguns diriam "mas e as lembranças? Elas não bastam?". Será que bastaria uma imagem recriada pelo cérebro de um tempo... como sonhos?, mas sonhos não bastam, nunca é aconselhável só sonhar, precisa-se de realidade, que só existe no agora, quando o cérebro não recria, mas interpreta imagens, quando não se é sonho.
E não pense que acho que sonhos são totalmente dispensáveis! Sou grata as lembranças, é claro. É muito bom lembrar, ter sonhos, para não viver no vazio de uma realidade que se perde. Mas infelizmente, não creio ser capaz de aceitar que você não está aqui, agora. E assim eu notei qual era realmente o problema que me afligia. O que me corrói é não poder enfrentar o sonho que você se tornou.
MR
domingo, 15 de dezembro de 2013
A Árvore de Memórias
Numa cidadezinha, longe de muitas outras cidadezinhas, as coisas eram um tanto quanto confusas. Se alguém comprava pão pela manhã e dizia ao senhor padeiro que pagaria no dia seguinte, muito provavelmente aquilo seria esquecido até a hora do almoço, nem padeiro, nem ninguém lembraria do dinheiro a receber pelo pão. Isso não era maldade, imagine que um dia uma senhora volta pra casa e encontra três crianças a esperar na sala, mas nenhum dos presentes se conhecem, e eu posso garantir pra você que essa senhora gentil cuidou muito bem das crianças, até sem lembrar o que elas faziam ali.
Essa falta de memória dos habitantes daquela cidadezinha, quando alguém lembrava que esse problema existia, era uma coisa desconcertante e desconfortável para eles. Com muita dificuldade os habitantes decidiram que, no momento que se lembrassem de algo, colocaria essa memória numa árvore. Não me pergunte da onde veio a árvore, nem como ela foi a escolhida dentre tantas outras, ninguém lá lembra. Mas foi o que fizeram, depositaram todas suas memórias lá, uma a uma, bem aos pouquinhos.
Pode parecer uma tarefa simples pra você que lembra que roupa usava no seu aniversário ano passado ou o que comeu na janta ontem, só que pra eles não, tinham que lembrar de algo, depois lembrar que tinham que colocar isso na árvore e lembrar dos dois ao mesmo tempo quando chegassem a árvore. Foi complicado, mas a árvore encheu e nem mesmo o guardião da árvore lembra quanto tempo levou e ninguém lembra do guardião, ele mesmo se pergunta se existiu algum.
Não fiquem tristes por essa cidadezinha longe, sem memórias e sem passado, quanto mais a árvore enchia, quanto mais ela crescia, quanto mais os habitantes lembravam das duas coisas ao mesmo tempo, mais todos se lembravam.
Hoje há até quem diga que a senhora que voltou pra casa e encontrou as três crianças lembra o nome de cada uma delas! Mesmo esquecendo por vez ou outra que estes são seus filhos.
MR
Essa falta de memória dos habitantes daquela cidadezinha, quando alguém lembrava que esse problema existia, era uma coisa desconcertante e desconfortável para eles. Com muita dificuldade os habitantes decidiram que, no momento que se lembrassem de algo, colocaria essa memória numa árvore. Não me pergunte da onde veio a árvore, nem como ela foi a escolhida dentre tantas outras, ninguém lá lembra. Mas foi o que fizeram, depositaram todas suas memórias lá, uma a uma, bem aos pouquinhos.
Pode parecer uma tarefa simples pra você que lembra que roupa usava no seu aniversário ano passado ou o que comeu na janta ontem, só que pra eles não, tinham que lembrar de algo, depois lembrar que tinham que colocar isso na árvore e lembrar dos dois ao mesmo tempo quando chegassem a árvore. Foi complicado, mas a árvore encheu e nem mesmo o guardião da árvore lembra quanto tempo levou e ninguém lembra do guardião, ele mesmo se pergunta se existiu algum.
Não fiquem tristes por essa cidadezinha longe, sem memórias e sem passado, quanto mais a árvore enchia, quanto mais ela crescia, quanto mais os habitantes lembravam das duas coisas ao mesmo tempo, mais todos se lembravam.
Hoje há até quem diga que a senhora que voltou pra casa e encontrou as três crianças lembra o nome de cada uma delas! Mesmo esquecendo por vez ou outra que estes são seus filhos.
MR
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