domingo, 15 de dezembro de 2013

A Árvore de Memórias

Numa cidadezinha, longe de muitas outras cidadezinhas, as coisas eram um tanto quanto confusas. Se alguém comprava pão pela manhã e dizia ao senhor padeiro que pagaria no dia seguinte, muito provavelmente aquilo seria esquecido até a hora do almoço, nem padeiro, nem ninguém lembraria do dinheiro a receber pelo pão. Isso não era maldade, imagine que um dia uma senhora volta pra casa e encontra três crianças a esperar na sala, mas nenhum dos presentes se conhecem, e eu posso garantir pra você que essa senhora gentil cuidou muito bem das crianças, até sem lembrar o que elas faziam ali.

Essa falta de memória dos habitantes daquela cidadezinha, quando alguém lembrava que esse problema existia, era uma coisa desconcertante e desconfortável para eles. Com muita dificuldade os habitantes decidiram que, no momento que se lembrassem de algo,  colocaria essa memória numa árvore. Não me pergunte da onde veio a árvore, nem como ela foi a escolhida dentre tantas outras, ninguém lá lembra. Mas foi o que fizeram, depositaram todas suas memórias lá, uma a uma, bem aos pouquinhos.

Pode parecer uma tarefa simples pra você que lembra que roupa usava no seu aniversário ano passado ou o que comeu na janta ontem, só que pra eles não, tinham que lembrar de algo, depois lembrar que tinham que colocar isso na árvore e lembrar dos dois ao mesmo tempo quando chegassem a árvore. Foi complicado, mas a árvore encheu e nem mesmo o guardião da árvore lembra quanto tempo levou e ninguém lembra do guardião, ele mesmo se pergunta se existiu algum.

Não fiquem tristes por essa cidadezinha longe, sem memórias e sem passado, quanto mais a árvore enchia, quanto mais ela crescia, quanto mais os habitantes lembravam das duas coisas ao mesmo tempo, mais todos se lembravam.

Hoje há até quem diga que a senhora que voltou pra casa e encontrou as três crianças lembra o nome de cada uma delas! Mesmo esquecendo por vez ou outra que estes são seus filhos. 


MR

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