Era uma vez uma porta, uma menina, o mar e o céu.
A porta ficava numa ruazinha bem estreita, não havia muros, paredes ou coisas assim, só a porta logo na eira da beira da calçada onde ficavam as portas, portões e todas as entradas das casas, mas naquele espaço não havia casa, casinha, mansão ou casebre, só a porta que estava fechada.
A menina morava na rua paralela da porta. Sempre que voltava da escola a menina passava por ali, atravessava a rua e olhava a porta, lá no fim, parava, pensava, entrava na rua da porta, parava na frente dela, dava uma volta entorno, suspirava e ia pra casa.
O mar, bem longe da porta e da menina, se preocupava apenas em fazer o que o mar faz, sem perturbar ou ser perturbado.
O céu está sempre no seu lugar, sempre a testemunha ocular de qualquer crime. O céu viu a porta, a menina, o mar ao longe e a menina mais uma vez circulando a porta.
A porta estava lá quando a menina chegou. E por lá ficou enquanto era observada.
A menina olhava a porta, todos os detalhes, a examinava por completo. A menina postou-se atrás da porta, a abriu, tudo que viu foi a rua, fechou a porta. Agora ela estava de frente e abriu a porta, puxando-a para si.
O mar invadiu a rua, engolindo primeiro a menina.
O céu assistiu a porta, o mar e a menina.
MR
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