segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Conversa Fiada.


Não sei ao certo como fui parar lá ou as palavras exatas que foram ditas, mas numa madrugada amena de verão uma movimentação fora do normal tomava conta da frente de uma casa. Policia, curiosos, um toque de mídia, só faltava armar a lona, e lá estava o circo. Um verdadeiro massacre, toda uma família estendida no chão frio da cozinha, todos, menos uma menina. 
Entre uma conversa e outra fui entendendo o que aconteceu, ou pelo menos o que as pessoas acharam  que aconteceu.  A casa foi invadida, algo sobre um roubo de jóias ou vingança. A família foi confinada na cozinha, no caso das jóias, mas alguém tentou chamar a policia ou revidar e eles acabaram lá, no chão. Já na versão da vingança, que eu particularmente acho bem mais divertida, seja lá quem queria vingança, foi convidado a entrar pela família que jantava, estavam então todos na cozinha ajudando com a louça, quando de repente o convidado sacou uma arma, rendeu todos, e matou, um a um.
Como disse no começo houve uma sobrevivente. A filha mais nova, de apenas cinco ou seis anos, estava dormindo no segundo andar (em ambas as histórias) e acordou ao som dos gritos de sua família. Saiu da cama, foi ao quarto dos pais no mesmo corredor, pegou a arma que seu pai tinha numa gaveta e voltou para seu quarto e se escondeu debaixo de sua cama. De lá usou seu celular para ligar, o que ela achou que fosse a policia, mas na verdade foi para um amigo da família, o primeiro a encontrar os corpos.
Ouvi o relato do amigo de camarote, enquanto ele respondia as perguntas de uma repórter.
- O Sr. foi o primeiro a chegar ao local?
- Sim, eu recebi uma ligação da pequena, nem sabia que ela tinha meu número, ela me ligou e ficou repetindo "louco, sangue e gritos, me ajuda!". Ela achava que estava falando com a policia, me passou até o endereço da casa, pobrezinha.
- E o que o Sr. encontrou quando chegou a casa?
- Bem, a porta estava aberta... entrei... estava tudo quieto... então subi e fui ao quarto dela. Que susto levei! Ela estava de pé de frente para porta segurando uma arma e a apontando pra mim! Depois que ela viu que era eu, abaixou a arma e me deu um abraço, chorou muito. Deixei ela lá em cima e fui procurar o resto do pessoal enquanto chamava a policia... foi ai que eu vi...
Pausa dramática.
- ...eles... todos eles... foi horrível.
A repórter tentou fazê-lo falar mais, mas veio um policial e o levou dali. Foi ai que eu vi a menina, enrolada num cobertor vermelho, chorando ou rindo muito, era difícil dizer, pobre garota...
No dia seguinte os principais jornais traziam o acontecido nas primeiras páginas e as manchetes diziam "Criança causa banho de sangue por causa da sobremesa".


MR

2 comentários:

  1. Olha gostei demais dessa sua veia cômica, de quebra de expectativa. cai como uma luva nos seus textos que tem tal intenção.

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  2. hahaha muito bom!
    gosto dos seus "contos" mais do que dos poemas.

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