Não sei ao certo como fui parar lá ou as
palavras exatas que foram ditas, mas numa madrugada amena de verão uma
movimentação fora do normal tomava conta da frente de uma casa. Policia,
curiosos, um toque de mídia, só faltava armar a lona, e lá estava o circo. Um
verdadeiro massacre, toda uma família estendida no chão frio da cozinha,
todos, menos uma menina.
Entre uma conversa
e outra fui entendendo o que aconteceu, ou pelo menos o que as pessoas acharam
que aconteceu. A casa foi invadida, algo sobre um roubo de jóias ou
vingança. A família foi confinada na cozinha, no caso das jóias, mas alguém
tentou chamar a policia ou revidar e eles acabaram lá, no chão. Já na versão da
vingança, que eu particularmente acho bem mais divertida, seja lá quem queria
vingança, foi convidado a entrar pela família que jantava, estavam
então todos na cozinha ajudando com a louça, quando de repente o convidado
sacou uma arma, rendeu todos, e matou, um a um.
Como disse no
começo houve uma sobrevivente. A filha mais nova, de apenas cinco ou seis anos,
estava dormindo no segundo andar (em ambas as histórias) e acordou ao som dos
gritos de sua família. Saiu da cama, foi ao quarto dos pais no mesmo
corredor, pegou a arma que seu pai tinha numa gaveta e voltou para seu quarto e
se escondeu debaixo de sua cama. De lá usou seu celular para ligar, o que ela
achou que fosse a policia, mas na verdade foi para um amigo da família, o
primeiro a encontrar os corpos.
Ouvi o relato do
amigo de camarote, enquanto ele respondia as perguntas de uma repórter.
- O Sr. foi o
primeiro a chegar ao local?
- Sim, eu recebi
uma ligação da pequena, nem sabia que ela tinha meu número, ela me ligou e
ficou repetindo "louco, sangue e gritos, me ajuda!". Ela achava que
estava falando com a policia, me passou até o endereço da casa, pobrezinha.
- E o que o Sr.
encontrou quando chegou a casa?
- Bem, a porta
estava aberta... entrei... estava tudo quieto... então subi e fui ao quarto
dela. Que susto levei! Ela estava de pé de frente para porta segurando uma arma
e a apontando pra mim! Depois que ela viu que era eu, abaixou a arma e me deu
um abraço, chorou muito. Deixei ela lá em cima e fui procurar o resto do
pessoal enquanto chamava a policia... foi ai que eu vi...
Pausa dramática.
- ...eles... todos
eles... foi horrível.
A repórter tentou
fazê-lo falar mais, mas veio um policial e o levou dali. Foi ai que eu vi a
menina, enrolada num cobertor vermelho, chorando ou rindo muito,
era difícil dizer, pobre garota...
No dia seguinte os
principais jornais traziam o acontecido nas primeiras páginas e as manchetes
diziam "Criança causa banho de sangue por causa da sobremesa".
MR
Olha gostei demais dessa sua veia cômica, de quebra de expectativa. cai como uma luva nos seus textos que tem tal intenção.
ResponderExcluirhahaha muito bom!
ResponderExcluirgosto dos seus "contos" mais do que dos poemas.