sexta-feira, 20 de abril de 2012

Eu, Hélio.


Saí do casting e sentei em algum banco daquela praça, pensei. E depois senti que não devia pensar. Mas logo em seguida pensei novamente, e entendi que valeria a pena não pensar. Veio-me a mente os poemas de Alberto Caieiro, e dizia ele que quem pensa não vê com os olhos. Não consigo ver com os olhos, entendi isso. E depois de tudo isso relembrei o que vim fazer aqui. Vim tentar fazer o que eu achava que veria com o coração, porém aqueles que me viam, o faziam com os olhos e não com o coração, ou talvez esse seja apenas meu ponto de vista. Eu aqui, com 25 anos, tentando ser o que serei daqui há 20, 30, quiçá 40 anos. Sinto-me irritado com o ar, com as pessoas que falam ao meu redor. Após alguns instantes me levanto e dirijo-me ao bar mais próximo. Chegando ao bar peço uma cachaça que faça aliviar o embrulho de meu estomago. Olho ao redor e procuro alguém com quem falar. Eu queria falar. Queria alguém a quem falar. Sinto-me sozinho. Sozinho é a palavra que me defini em todos esses anos. E novamente sinto. Sentir. Lembrei do abraço de minha mãe ao me despedir. Lembrei da infância. E eu não conseguia me desprender da infância. Porque tudo antes era tão feliz, tão fácil. Aquele desejo de bolo de chocolate, logo era preenchido.  Eu queria que continuasse sendo.  Queria sentir novamente o cheiro da terra molhada pela chuva, mas tudo que eu sentia era o gosto amargo da rejeição. Depois da terceira dose de pinga, resolvi conversar com alguém. O atendente. O atendente não fazia cara de muitos amigos, mas certamente já teria pensado o mesmo que eu, afinal aparentava ter quase a mesma idade. Dirigi-me a ele e perguntei quais eram os planos, ele me respondeu que era servir aquelas outras mesas. Mas quais planos seriam esses? Porque tão breves? Nada a longo prazo? Novamente pus-me a pensar sobre Alberto Caiero, e certamente ele não faria planos para o amanhã. Pois eu faço. Fico a imaginar como seria o hoje, se eu não tivesse caminhado até esse bar e pedido essa cachaça. Imagino também como seria se não tivesse saído de lá. Talvez teria uma vida longa e feliz no campo. Ou talvez ainda uma vida cheia de tédio e insatisfações. Mas, espere, tédio é algo que tenho alimentado ao passar de todos esses anos aqui na cidade. Será possível sentir tédio em lugar cheio de atrativos? Sim; respondo com certeza.  Estou aqui e sozinho. Tanta gente ao redor e ninguém. Já estou agora bêbado, e cansado o bastante para poder parar de pensar. Mas como poderia parar de pensar? Há tantas coisas que me vêem a cabeça. E elas não param de vir. Coisas que vieram e que virão. Será que sou um ator? Como saberei se sou um ator se nem mesmo sei quem sou eu. Eu mesmo, eu Hélio, aquele que nasceu em 1986 naquela cidade do interior, e que depois veio até São Paulo tentar ser... alguém. Alguém? Como se pode ser alguém quando não se pode nem se quer saber quem é. Quem é alguém? Nem se quer sei o que essa palavra significa. Consultando meu dicionário de bolso – sim, tenho um dicionário de bolso – vejo que significa “pessoa não identificada.” Pessoa não identificada? Pois agora acho que mudei de idéia. Talvez eu seja uma pessoa não identificada.


P.R

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