quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O Dia Em Que Virei Russa


Havia uma menina, a qual chamarei de Melissa, que tinha o corpo queimado de sol, olhos castanhos e cabelos da mesma cor.
Um dia Melissa foi a um lugar, que prefiro não mencionar para que nem eu, nem a história, nem o lugar sofram julgamento desnecessário, pois o que realmente importa é o que se sucedeu lá. Pois bem, lá estava Melissa sentada, de olhos fechados, quando sem aviso seu corpo subiu ao ar e parou. Melissa estava com as pernas retas e braços abertos e numa luz seu corpo desceu suavemente ao chão.
Esse fato foi ofuscado pela visão que nossos olhos focalizaram. O corpo de Melissa estava branco como o leite, seus cabelos ruivos e quando ela abriu os olhos cor de céu achamos que não poderia acontecer mais nada, mas é claro que estávamos errados, quando Melissa falou, nada se entendeu.
Melissa foi levada a um hospital e lá foi descoberto, não sei como, que ela estava falando russo e de resto não havia explicação.
Umas semanas depois conseguimos achar um interprete que nos disse:
- Ela sabe quem é, mas diz saber também quem foi. Diz que a chamem de Misha, pois seu nome ainda tem medo de pronunciar.
Depois dessas palavras ninguém quis saber mais da Melissa ou Misha. E ela foi esquecida, exceto por ela...


MR

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Não Seja Ridículo


Através dos tempos te olhei
e por muitas vezes desejei
apenas ser parte de ti
queria ter um tanto de você em mim

Aquela luz do farol que me guia
por algum motivo anda contigo em sintonia
E por ela sempre busquei
e você sempre respondia

Sou hoje o que você jamais seria
você é hoje o que sempre almejei
Somos hoje uma única via
que se estenderá por toda uma vida

MR

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Sobre

De repente todo mundo tem um sonho
Mais que de repente todo mundo tem história
De mim não tem nada


De repente todo mundo acha estranho
Mais que de repente todo mundo acha a hora
De mim não acham nada


De repente todo mundo é
Mais que de repente todo mundo é
De mim não sou nada


MR

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Imagine

Imagine da partida chegar
e se deparar apenas com a despedida
Imagine do pesadelo despertar
e descobrir que não dormia
Imagine por toda uma vida um lugar procurar
e se dar conta que sempre esteve lá
Imagine o mundo inteiro atravessar
e perceber que o que precisa...


Imagine-se
Imagine se...


MR

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Menino?

Eu conheci um menino
que tinha nome de anjo
e alma de capeta
tinha aparência de um deus
e jeito de Julieta

MR

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Conversa Fiada.


Não sei ao certo como fui parar lá ou as palavras exatas que foram ditas, mas numa madrugada amena de verão uma movimentação fora do normal tomava conta da frente de uma casa. Policia, curiosos, um toque de mídia, só faltava armar a lona, e lá estava o circo. Um verdadeiro massacre, toda uma família estendida no chão frio da cozinha, todos, menos uma menina. 
Entre uma conversa e outra fui entendendo o que aconteceu, ou pelo menos o que as pessoas acharam  que aconteceu.  A casa foi invadida, algo sobre um roubo de jóias ou vingança. A família foi confinada na cozinha, no caso das jóias, mas alguém tentou chamar a policia ou revidar e eles acabaram lá, no chão. Já na versão da vingança, que eu particularmente acho bem mais divertida, seja lá quem queria vingança, foi convidado a entrar pela família que jantava, estavam então todos na cozinha ajudando com a louça, quando de repente o convidado sacou uma arma, rendeu todos, e matou, um a um.
Como disse no começo houve uma sobrevivente. A filha mais nova, de apenas cinco ou seis anos, estava dormindo no segundo andar (em ambas as histórias) e acordou ao som dos gritos de sua família. Saiu da cama, foi ao quarto dos pais no mesmo corredor, pegou a arma que seu pai tinha numa gaveta e voltou para seu quarto e se escondeu debaixo de sua cama. De lá usou seu celular para ligar, o que ela achou que fosse a policia, mas na verdade foi para um amigo da família, o primeiro a encontrar os corpos.
Ouvi o relato do amigo de camarote, enquanto ele respondia as perguntas de uma repórter.
- O Sr. foi o primeiro a chegar ao local?
- Sim, eu recebi uma ligação da pequena, nem sabia que ela tinha meu número, ela me ligou e ficou repetindo "louco, sangue e gritos, me ajuda!". Ela achava que estava falando com a policia, me passou até o endereço da casa, pobrezinha.
- E o que o Sr. encontrou quando chegou a casa?
- Bem, a porta estava aberta... entrei... estava tudo quieto... então subi e fui ao quarto dela. Que susto levei! Ela estava de pé de frente para porta segurando uma arma e a apontando pra mim! Depois que ela viu que era eu, abaixou a arma e me deu um abraço, chorou muito. Deixei ela lá em cima e fui procurar o resto do pessoal enquanto chamava a policia... foi ai que eu vi...
Pausa dramática.
- ...eles... todos eles... foi horrível.
A repórter tentou fazê-lo falar mais, mas veio um policial e o levou dali. Foi ai que eu vi a menina, enrolada num cobertor vermelho, chorando ou rindo muito, era difícil dizer, pobre garota...
No dia seguinte os principais jornais traziam o acontecido nas primeiras páginas e as manchetes diziam "Criança causa banho de sangue por causa da sobremesa".


MR

domingo, 22 de janeiro de 2012

A Menina e a Morte


Era uma vez uma menina que, apesar de seu vestido e sapatinhos pretos, não combinava com a cena em andamento. Ela via rostos tristes e uma caixa grande com a tampa aberta em cima de uma mesa. As pessoas se aproximavam da caixa, esboçavam sorrisos tristonhos, as vezes tocavam o seu interior e iam se agrupando formando várias rodas tristonhas. Silêncio e choro. Ela não estava triste.
- O que tem na caixa?
Muitos olhos se viraram para a garota e, esses mesmos olhos procuraram os olhos de uma mulher, que assentiu com a cabeça, caminhou até a garota, abaixou-se ao seu lado, olhou-a nos olhos.
- Filha... Ahn... Tio Gregório está na caixa - disse a mulher incerta de suas palavras.
- E o que o tio Gregório está fazendo na caixa!?- espantou-se a menina arregalando os olhos.
A mãe gaguejou muitas coisas inaudíveis e sem sentido, olhando em volta em busca de ajuda.
- Ele está esperando um anjo vir buscar-lhe - quem falava agora era uma mulher muito bonita e bem arrumada que estava atrás da mãe - Sabe, chega um momento na vida em que vamos dormir para poder esperar um anjo.
- Se tio Greg está esperando um anjo... então por que todo mundo está... - a menina olhou para todos os rostos chorosos da sala.
- Ah querida, isso é porque depois que ele for com o anjo, não vai voltar - a mulher fez uma pausa e depois continuou. - Estamos todos aqui nos despedindo e desejando ao seu tio uma boa viagem com o anjo. Gostaria de despedir-se?
A garota acenou positivamente com a cabeça, mas a mãe hesitou, segurando a sua filha pelos ombros, que já havia estendida sua mãozinha para a mulher, só que acabou libertando-a.
Juntas, a menina e a mulher, foram a grande caixa aberta onde a mulher pegou-a no colo, e assim, a menina pode ver no interior seu tio.
- Faça boa viagem tio Greg. Espero que seja um anjo bem legal que venha te buscar. Se puder mande noticias.
A garota foi posta no chão com um sorriso, sendo novamente encarada  por todos, que prenderam a respiração quando ela disse em alto e bom som:
- Tudo bem pessoal... Tio Greg está bem e feliz! O anjo quem me disse!
Este foi o primeiro encontro da garota com a morte. Um feliz encontro.


Tempos mais tardes a menina-adolescente esteve mais uma vez entre roupas pretas e choro. Mas dessa vez ela combinava com a cena. Estava triste. Era sua mãe.
Não havia nada que pudesse lhe ajudar a entender aquilo, sua mãe se fora, só ficou o vazio. Tudo que a menina ouvia era lamentos, choro, palavras vazias de ajuda
- Quem poderia imaginar? Foi de câncer, me disseram. Uma pena...
A garota procurou auxilio no silêncio lá fora.
- Perdeu a fé no sonho dos anjos? - aquela era uma voz familiar, a menina virou para encara-la - Ou só se esqueceu?
- Sonho dos anjos? - a menina não aguentou mais. - Ela MORREU! - lágrimas até agora contidas escorreram pelo seu rosto. - Ela... E... Ela foi embora! Estou sozinha... Ela morreu...
- Vai ver esqueceu. Não perca a fé - e com essas palavras a mulher foi embora.
E este foi o segundo encontro da garota com a morte. Um triste encontro.



MR