E quando não tinha caras, quando não
sabia de teu nome, não tinha
olhos, uma voz, quando era imagem, só imagem, uma ideia de sombras, uma
alucinação da minha cabeça, enquanto não existias fisicamente no meu campo
de visão, não houve época mais feliz. Não houve, te afirmo que não houve,
não haveria de ter dias mais ensolarados que estes de minha inocência.
Então veio tuas costas, teus cabelos,
tuas roupas, teu nome nunca saberei, mas tua existência já me
assombrava, me rodou tudo de uma vez, me roubou tudo de uma vez, e
tudo de uma vez perdi meus dias de sol e calor, os dias da mais terna
felicidade, todos os dias que estavam por vir, se foram, só porque tu, mórbida existência,
resolvestes entrar da maneira mais cruel na minha vida. Não culpo somente a ti,
sei que essa realidade inóspita não me mostraria tua face mais gentil, mas não
esperava que tu fostes aparecer daquela maneira, de costas, me deixando apenas
a visão dos olhos que levaram do céu ao inferno. Dois corpos, que não os meus, o
teu e outro.
Tens rosto agora, uma voz que abomino, um
sorriso languido, estilo duvidoso, maneira estupida de querer estar no topo, e
conseguir. E aqui é onde digo,o que realmente me atormenta, não és por ti
que nutro ódio, pois tu és vitima do meu destino, meu ódio direciono ao meu
amor que estas ao teu lado, meu amor. Que ironia mais infame a que me vejo
presa, odeio meu amor que não posso odiar, pois o amo, não posso te odiar, já
que assumo e reconheço que nada tens a ver com minha desgraça. Já que não
posso odiar ninguém além de mim e como me considero vitima de meus próprios
muros, o que posso fazer é acrescentar cimento e tijolos sobre tudo.
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