Nos últimos anos, não houve
um dia sequer em que não tivesse pensado você. Por algum tempo tentei ignorar
sua existência, então desliguei a TV – sentia náuseas só de pensar em ver seu
rosto. Joguei meu celular no lixo, temendo que alguma voz do outro lado me
perguntasse sobre você. Depois parei de sair na rua, por medo de te encontrar
em alguma loja de eletroeletrônicos.
Decidi me concentrar no
trabalho e escrever alguma historia que nada tivesse a ver com você. Isso só me
deixou mais deprimida. Os diálogos da historia pareciam não fazer sentido, os
personagens eram superficiais e sem emoção. O livro não vendeu nem mil cópias. Meu
maior fracasso. As coisas só pioraram desde então, percebi que já não conseguia
escrever uma palavra sequer. Passava os dias andando de um lado para o outro da
sala e olhando para a TV desligada. Achei que a razão de minha ansiedade era aquela
maldita TV. Foi então que, em um surto, joguei a maldita pela janela. Senti certo
alivio por alguns dias, mas logo comecei a ficar obcecada em achar alguma
maneira de preencher o espaço vazio deixado pela caixa de imagens. Arrumei uma
solução para os dois problemas, o vazio e a escrita, comprei uma máquina de
escrever pelo Mercado Livre e a coloquei no espaço.
Meses se passaram e nenhuma linha. Os
pensamentos sobre você já estavam me sufocando havia algum tempo. Resolvi me
livrar daquilo e, finalmente, escrever sobre nós: Uma bela história de amor à
primeira vista, com personagens fortes e
cheios de emoções. Os dois se conheceram em um encontro casual e, apesar de
todas as peripécias, acabam se reencontrando no final e ele descobre que a
amava desde o inicio. Talvez esse livro tenha sido meu maior sucesso. Na verdade
foi minha melhor mentira, mas pelo menos senti que havia me livrado de algo
pesado que me acompanhara durante anos a fio: você. Quanto a TV, comprei uma
nova no final do ano passado, mas pedi a minha operadora de TV por assinatura
que retirasse o canal 22 do meu pacote.
P.R
P.R
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