terça-feira, 20 de março de 2012

Te(vê)r.


Nos últimos anos, não houve um dia sequer em que não tivesse pensado você. Por algum tempo tentei ignorar sua existência, então desliguei a TV – sentia náuseas só de pensar em ver seu rosto. Joguei meu celular no lixo, temendo que alguma voz do outro lado me perguntasse sobre você. Depois parei de sair na rua, por medo de te encontrar em alguma loja de eletroeletrônicos.
Decidi me concentrar no trabalho e escrever alguma historia que nada tivesse a ver com você. Isso só me deixou mais deprimida. Os diálogos da historia pareciam não fazer sentido, os personagens eram superficiais e sem emoção. O livro não vendeu nem mil cópias. Meu maior fracasso. As coisas só pioraram desde então, percebi que já não conseguia escrever uma palavra sequer. Passava os dias andando de um lado para o outro da sala e olhando para a TV desligada. Achei que a razão de minha ansiedade era aquela maldita TV. Foi então que, em um surto, joguei a maldita pela janela. Senti certo alivio por alguns dias, mas logo comecei a ficar obcecada em achar alguma maneira de preencher o espaço vazio deixado pela caixa de imagens. Arrumei uma solução para os dois problemas, o vazio e a escrita, comprei uma máquina de escrever pelo Mercado Livre e a coloquei no espaço.
            Meses se passaram e nenhuma linha. Os pensamentos sobre você já estavam me sufocando havia algum tempo. Resolvi me livrar daquilo e, finalmente, escrever sobre nós: Uma bela história de amor à primeira vista, com personagens  fortes e cheios de emoções. Os dois se conheceram em um encontro casual e, apesar de todas as peripécias, acabam se reencontrando no final e ele descobre que a amava desde o inicio. Talvez esse livro tenha sido meu maior sucesso. Na verdade foi minha melhor mentira, mas pelo menos senti que havia me livrado de algo pesado que me acompanhara durante anos a fio: você. Quanto a TV, comprei uma nova no final do ano passado, mas pedi a minha operadora de TV por assinatura que retirasse o canal 22 do meu pacote.


P.R

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