domingo, 5 de outubro de 2014

Alguém Na Escuta?

Oi? Alô? Alô? Estão me ouvindo?
Qualquer um... Alô?
Acho que o pessoal lá trás... Estão ouvindo?
Da pra aumentar um pouquinho?
Alô? Teste. Alô. Acho que agora foi. 
Vocês ai da esquerda, tá chegando ai?
Pessoal aqui da direita, tudo certo?
Por favor, só escutem. Acho que não estão ouvido. 
Alô?
Vocês escutam ai da frente?
Escutem. 
Aumenta o volume mais um tanto, por favor. 
Não tá funcionando? Será que alguém pode resolver aqui?
Aqui, acho que tá quebrado. Alguém?
Oi? Alô?...

MR

terça-feira, 23 de setembro de 2014

a cidade que me pariu.

sempre ouço falar de como São Paulo acolheu ou expulsou um ou outro forasteiro.

mas e de sua cria, o que São Paulo fez?
aqui nasci e vivi por grande parte da minha vida, a parte mais importante.

só meus dias maiores podem ter sido vividos aqui,

porém, cada vez mais, me sinto expulsa da cidade que me pariu.
ando por essas ruas, que um dia pisei firme
e decepciono a mim mesma
acelerando meu coração a cada passo
e do do metrô que um dia me fez orgulhosa
hoje sinto medo

medo de cada passo na avenida paulista
se uma buzina destoa do que costumava ouvir

medo do medo de ter medo
e de andar por essa cidade que um dia me pariu.

Paula Raia,

sábado, 2 de agosto de 2014

o tempo

já faz quase um ano. e eu gostava tanto de você (gosto pra sempre). um dia desses sonhei que você estava com medo de morrer. esse medo é  meu, é nosso, é de todos. e esse medo também é o que eu sinto de mim mesma, por isso escrevo sempre em letras minúsculas; pra não sobressair nem uma nem outra vogal ou consoante, afinal é de todos. eu escutei de novo aquela música e entendi o que ela queria me dizer. não era nada daquilo que me dizia há um ano atrás, mas ainda assim era a mesma coisa. é só que eu não queria entender antes. ver que o tempo é necessário. e o tempo e o vento, sim o vento também, os dois, te levam onde nunca imaginarias estar. e contando com a inexistência do tempo e a inconstância do vento, podemos ir pra onde quer que seja. acreditando que isso seja, supostamente, a verdade do universo, podemos sempre estar e fluir. você fluindo pelo cosmo, e eu, apenas estando aqui e agora. um bom final sem letras maiúsculas, travessão, aspas, espaços para parágrafos, nem muito menos um ponto final



Paula Raia

terça-feira, 29 de julho de 2014

nunca

é que de mim mesma
nunca fui amiga
gostaria que a rua
me levasse
com ela
(eu) esperando que ela
nunca me leve a mim.

Paula Raia

domingo, 8 de junho de 2014

O Dois Lados de Primavera

Em Primavera moram duas garotas. Uma delas, de cabelos curtos cor de palha, de palha incandescente, vive na parte ensolarada, com lindos jardins de flores silvestres ou campestres ou mesmo sem classificação, quando ela andava pelos jardins seus cabelos eram puro fogo em Primavera. A outra, de cabelos longos e ou muito pretos ou muito azuis, vive na parte mais agitada, cheia de jardins de prédios altos e baixos iluminados por luzes magnificas durante a noite, nas quais seus cabelos brilhavam como um céu de estrelas.

Nossa Fogo olhava o outro lado de Primavera e suas luzes, não havia cores tão lindas e vibrantes em todo o jardim. Nossa Céu olhava o outro lado de Primavera e sua luz, não havia cores tão lindas e vibrantes em todo o jardim. Fogo desejou as cores da noite. Céu desejou as cores do dia. E em segredo foram busca-las.

Fogo chegou ao outro lado pela manhã, quase no mesmo momento em que Céu partiu para o outro lado. O dia estava fraco, tudo era muito cinza, não havia cor, até mesmo seu cabelo não entrou em combustão. 

Quando Céu chegou ao outro lado, ao mesmo tempo que Fogo partiu para seu outro lado, já era noite. Uma noite sem lua em que poucas estrelas se aventuraram e tudo que ela encontrou foram escuros tons de cinza, seu cabelo tão apagado quanto o resto.

Fogo chegou pela manhã ao seu lado e agradeceu o sol forte. Céu chegou pelo anoitecer ao seu lado e agradeceu as luzes brilhantes. 

Ainda em Primavera elas moram. Fogo deseja as cores da noite. Céu deseja as cores do dia. Só de longe.

MR

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Minha Bonequinha

Minha bonequinha de porcelana
deitada na caixinha enfeitada que mandei fazer
Minha bonequinha de porcelana não chora nem reclama
deitada na caixinha enfeitada que mandei fazer

Minha bonequinha de porcelana
deitada na caixinha enfeitada que mandei fazer
Minha bonequinha de porcelana ficou no buraco
deitada na caixinha enfeitada que mandei fazer
Ninguém mais vê.


MR